O fundador da Apple, Steve Jobs, morreu sem ver sua empresa operar
normalmente no Brasil. O americano está sendo saudado justamente como um
revolucionário genial que transformou o modo como comercializamos e
consumimos cultura e tecnologia. Isso é muita coisa. Mas uma coisa ele
não conseguiu: fazer sua empresa ocupar o espaço que lhe cabe no
fenomenal mercado brasileiro. E isso diz muito mais do Brasil do que de
Jobs.
Até hoje os produtos Apple são comercializados por terceiros no Brasil,
já que a empresa americana não conseguiu um modelo de negócios viável na
pátria do imposto alto e de ambiente de negócios precário.
Os brasileiros pagam o dobro dos americanos ou mais para comprar os
iProdutos criados por Jobs e equipe. A última cartada para a
normalização da atuação da Apple por aqui foi o anúncio hiperinflado,
para dizer o mínimo, da construção de uma fábrica de iPads no nosso
país.
O anúncio ocorreu durante viagem de Dilma Rousseff à China, em abril
passado. Na falta de qualquer resultado palpável da visita, anunciou-se
com grande fanfarra e nenhuma substância que a Foxconn, empresa
taiwanesa que fabrica os iProdutos, abriria uma nova fábrica no Brasil
para produzi-los aqui. Era o que faltava para Dilma e o PT conquistarem a
emergente classe média nacional.
A Apple não consegue vender
direito seus produtos no Brasil por nossas precariedades econômicas,
aciona a empresa taiwanesa que fabrica iPads e iPods na China para que
os produza aqui e assim consiga driblar essas precariedades e isso ainda
é vendido como um trunfo da visita de Dilma à China. Haja "spin"!
A fábrica obviamente está até hoje na promessa. Desde então, falou-se de
produção inicial em novembro, depois que o BNDES financiaria o projeto
de US$ 12 bilhões, depois que não haveria mão de obra qualificada no
país para tocá-lo, depois que a operação começaria como as
"maquiladoras" mexicanas, com os produtos somente montados aqui.
O fato é que Steve Jobs morreu, e o Brasil ainda segue excluído em
grande medida da revolução Apple. Assim como seguimos com uma das
conexões de internet mais caras e lentas do mundo.
São essas coisas que explicam o nosso atraso, apesar dos enormes avanços
dos últimos anos, e a nossa dependência das benditas commodities
(porque sem elas teríamos déficits comerciais desastrosos).
Se Jobs conseguiu transformar tanta coisa, quem sabe a comoção com sua
morte ilumine a cabeça dos nossos burocratas e acelere a liberalização
do mercado brasileiro de tecnologia e digital.
Taxar tecnologia é taxar o conhecimento, a inovação, o futuro. É fechar as fronteiras para Steve Jobs.
fonte: folha.com
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